sexta-feira, 21 de setembro de 2018

XIII


não seria mais apropriado se o tempo

- este senhor de braços longos
e punhos para o alto –

interrompesse a trajetória equivocada

mas somos feitos deste chão
sobre qual pisamos
ainda hoje ao meio-dia

XII




é preciso que te movas
um grão que seja
neste teu olho de prata

  - cabedal de raízes -

são tantas as inundações
que não carregam nada

é preciso, sim
ferir os nós dos dedos
e desnudar os pés
para que colham a última chuva

terça-feira, 24 de abril de 2018

XI

um rio que seja para esta fome de raízes

não saberemos da morte
do seu rosto exposto ao sol
ou da memória que vestirá os nossos ombros

como a água que se move
eu tenho pressa

sábado, 7 de abril de 2018

X

a língua que diz
- não se mova -
pela leveza dos espaços

não é desta espessura que falo
mas das inundações não fabricadas

do peixe que se ergue no mar
e não retorna

terça-feira, 3 de abril de 2018

IX


um longo tempo
sem tecer a trégua

que fossem então as águas
a costurar os estilhaços
a nudez dos que ficaram

- e não souberam -

o peito a arfar
porque é noite
e já não se respira

o leito deste rio
é a mudez absoluta






terça-feira, 30 de janeiro de 2018

VIII


falaria da casa
do quanto as noites se alongam
até tocarem o chão

desta mudez – que não é pouca –

como um afogado
que ficou sem a palavra 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

VII

falar ao tempo
da disparidade com que tocamos as coisas
deste chão que não sabe de espaços fundos
é bom estar só e não mensurar
a agonia dos espelhos
um tempo que fosse palavra
e não asa