terça-feira, 30 de janeiro de 2018

VIII


falaria da casa
do quanto as noites se alongam
até tocarem o chão

desta mudez – que não é pouca –

como um afogado
que ficou sem a palavra 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

VII

falar ao tempo
da disparidade com que tocamos as coisas
deste chão que não sabe de espaços fundos
é bom estar só e não mensurar
a agonia dos espelhos
um tempo que fosse palavra
e não asa


domingo, 7 de janeiro de 2018

VI

como não sucumbir às sombras

que fazem escurecer  o dia

ao ruído, mínimo, que é cruzar a porta


 - essas coisas que rompemos com as mãos -


uma noite apenas

para tanta fome


e um céu

como se falássemos 

V


uns avessos, uns azuis
que não me cabem

e fosse o mar
esta torrente de milagres

não falaríamos de plátanos,
desembocaduras

não diríamos deste todo
de barcos, armaduras

a sutileza das armadilhas




IV

não veremos a profusão de navios

mares, terras por abandonar

verões que nunca acabaram


um pássaro que coubesse nos olhos

que plantasse a escuridão nos telhados


e retornaríamos ao caos

da palavra incendiada


III


devoraríamos a palavra
esta sede que impulsiona os barcos

um torpor que nos impede
um fechar de portas

a mão do tempo desfazendo os nós

estas raízes
cobrindo os nomes 

II


é como se falassem
de tão duras as águas

 - mas não dissessem nada -

um ruído que fosse
raízes inteiriças

um despojar de fendas
e descontroles


as mãos muito vazias 

I

como um deus
que fechasse os olhos

não diria tempo
- peso de serpentes -

nem saberia de muros, cardos
coisas que se movem

dessa leveza que tentamos
alcançar nos precipícios